quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mato Grosso é destino turístico de quem aposta em briga de galo


Agência de turismo de Salvador ofereceu pacote para um torneio realizado em julho em Cuiabá

Evilázio Alves/DC


Galo de briga encontrado em um centro de treinamento no CPA

ALINE CHAGAS
Da Reportagem

O Ministério Público, a Polícia Militar e o Ibama da Bahia descobriram que Cuiabá faz parte de uma rota turística de torneios envolvendo galos de briga. Os pacotes turísticos estavam disponíveis em um panfleto da empresa Via Brasil Viagens e Turismo, encontrado no meio de documentos apreendidos no Centro Esportivo da Bahia, nome dado ao Clube do Galo, fechado no dia 13 de maio pelas autoridades ambientais baianas.

De acordo com o panfleto, a viagem ocorreria entre 20 e 24 de julho, quando ocorreria um grande torneio em Cuiabá. O pacote incluía passagem aérea e hospedagem em dois dos melhores hotéis de Cuiabá, com café da manhã incluído.

A ação das autoridades ambientais e Polícia Militar da Bahia ocorreu após uma denúncia de que nos dias 13 e 14 de maio ocorreria o torneio de galos mensal do Centro Esportivo da Bahia, denominado “Da Troca de Penas”, no subsolo do restaurante Kimukeka, em Salvador.

O anúncio rendeu à Via Brasil Viagens e Turismo a venda de dez pacotes, segundo informações do dono da agência, Érico Viana. O proprietário contou ontem por telefone que a empresa foi procurada por um grupo de participantes de rinhas para montar o pacote e que não teve nenhum outro contato após as vendas.

O promotor de Meio Ambiente de Salvador, Luciano Rocha Santana, encaminhou à Promotoria de Meio Ambiente de Cuiabá cópias dos relatórios da operação e do panfleto com o anúncio dos pacotes. O promotor Gérson Barbosa, de Cuiabá, solicitou à Polícia Civil a abertura de inquérito para investigar o assunto.

Entre os documentos encontrados no Clube do Galo constavam listas de colaboradores da Associação de Criadores e de Preservação dos Galos das Raças Combatentes da Bahia, fornecedora de animais para apostas no Brasil inteiro e responsável pelo clube interditado. Nos apontamentos, foram encontrados nomes de pessoas da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Sergipe, Pará, Amazonas, Rondônia, Acre, Santa Catarina e Paraná.

O Ministério Público da Bahia ainda aguarda a autorização de quebra de sigilo bancário de alguns envolvidos para saber se há participação de pessoas de outros estados. “Não sei se vou identificar alguém de Mato Grosso. Ainda não há como afirmar nada. Precisamos da autorização da quebra do sigilo primeiro”, contou o promotor.

O promotor Luciano Santana entende que os documentos e panfletos encontrados mostram que o grupo que realiza rinhas é uma organização criminosa que tem atuação no Brasil inteiro. Pela ação do dia 13 de maio, o Ministério Público denunciou 29 pessoas. Duas delas, pessoas jurídicas: a associação e o Centro Esportivo da Bahia. “Já não é mais caso de investigação. O processo já está em fase de responsabilização”, contou o promotor.

Segundo Santana, o principal contribuinte da associação nos meses de fevereiro e março - e um dos denunciados - é o publicitário Duda Mendonça, marqueteiro do PT. O promotor citou que há uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em Ação Direta de Inconstitucionalidade que proíbe a criação, exposição e realização de brigas de galo em todo o país.

Érico Viana, dono da agência Via Brasil, comentou que não sabe quem são as pessoas que pediram para que fizessem o pacote e que a única função da agência era de tornar os preços mais acessíveis. “Não fizemos mais pacotes, porque está tudo suspenso aqui em Salvador”, disse Viana, ao comentar a suspensão das atividades do Centro Esportivo da Bahia.

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